terça-feira, setembro 21, 2010

um poema de Adonis

Que é uma estrada?

Manifesto de partida

escrito numa página chamada terra.


Que é uma árvore?

Lago verde

Cujas ondas são vento.


Que é um espelho?

Uma segunda face

um terceiro olho.


Que é a praia?

Colchão para ondas cansadas.


Que é uma cama?

Noite dentro da noite.


Que é uma rosa?

Cabeça a decapitar.


Que é um travesseiro?

Primeiro degrau na escada da noite.


Que é a terra?

Futuro do corpo.


...


Que são lágrimas?

Uma guerra que o corpo perdeu.


...

Que é a nudez?

O começo do corpo.


Que é a memória?

Uma casa para abrigar coisas ausentes.


...


Que é escuridão?

O ventre de uma mulher grávida do sol.

...

Que é um beijo?

Colheita visível do invisível.


Que é a angústia?

Vincos na seda dos nervos.


Que é uma metáfora?

Um anel no dedo do acaso.


Que é um abraço?

O terceiro dos dois.


Que é o sentido?

O começo do absurdo

e o fim dele.



Nascido na Síria em 1930, Ali Ahmed Said adotou o pseudônimo de Adonis. Radicou-se depois em Beirute, no Líbano, e vive atualmente em Paris. É muitas vezes citado como candidato ao Nobel. Cito trechos de seu longo poema "Guia de Viagem pela Floresta do Sentido", a partir da tradução para o inglês publicada na revista Rattapallax número 12 (editora 34).

in http://marcelocoelho.folha.blog.uol.com.br/arch2006-07-01_2006-07-31.html)

Um comentário:

Pilar Rocha disse...

q lindo manifesto de caminhante, adotá-lo-ei, adonis