Eu não acho que é uma boa saída, uma boa solução a gente ocupar o poder, ocupar lugares de poder. Eu acho que nossa questão é desconstruir o poder. O poder – se ele é masculino, se ele é feminino, se ele é negro, se ele é branco, se ele é índio... – só acontece a partir da impotência. Não há poder que não se alimente da impotência, que não precise das paixões tristes pra viver. Todo poder, ele está fundado na impotência. Então, isso pode até gerar algum tipo de confusão porque vocês podem pensar: “bom, mas então o que sobra? Se não tem o poder, se os que ocuparam o poder, os que ocupam o poder, os que têm poder, os que exercem poder simplesmente... devem ser varridos, devem ser eliminados e não ter mais poder de forma alguma?”. É exatamente o contrário: o que sobra é o que há de pleno na vida.
O poder é que deixa a vida imperfeita, que deixa a vida triste, que deixa a vida tediosa, que faz nos sentir ridículos, impotentes, tristes, entediados, depressivos e todas as desqualificações que a gente possa aqui enumerar. É o poder que na verdade obstrui os poros, as passagens dos afetos, das forças, dos tempos próprios que nos atravessam e que nós não sabemos mais tocar, nós não temos mais a sensibilidade pra essas forças, não temos mais a visão do tempo ou do imperceptível pro tempo próprio que nos atravessa, pro ritmo do nosso coração (não simplesmente como uma metáfora do coração, mas de fato um ritmo)... Não há ser neste universo que não tenha ritmo próprio, que não tenha vibração própria, que não crie tempo, que não crie espaço, que não crie corpo, a não ser quando ele perdeu a capacidade de reencontrar a fonte que o alimenta. E na medida em que a gente perde a capacidade de reencontrar a fonte que nos sustenta – que nos faz respirar, que nos faz ouvir, que nos faz falar, que nos faz pensar, que nos faz escrever, que nos faz andar, que nos faz ler, que nos faz acontecer... –, na medida em que a gente perde a relação com essa fonte, a gente pensa que o acontecimento é o lugar de uma banalização, de uma vulgarização, de uma desqualificação da vida. A vida não está mais no acontecimento. E a gente desinveste o acontecimento em prol de uma referência...
De um filósofo chamado Luiz Fuganti.
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