segunda-feira, novembro 17, 2008
Manuel de Barros
“ Um monge descabelado me disse no caminho: `Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução. A minha idéia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera. Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam. Porque o abandono pode não ser apenas um homem debaixo da ponte, mas pode ser também de um gato no beco ou de uma criança presa num cubículo. O abandono pode ser também uma expressão que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma palavra. Uma palavra que esteja sem ninguém dentro. (O olho do monge estava perto de ser um canto). Continuou: digamos a palavra AMOR. A palavra amor está quase vazia. Não tem gente dentro dela. Queria construir uma ruína para salvar a palavra amor.Talvez ela renascesse das ruínas, como o lírio pode nascer de um monturo.´ E o monge se calou descabelado.”
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